sexta-feira, 12 de junho de 2015

Quem é Pombagira?

Uma rosa vermelha enfeita os longos cabelos de uma mulher sensual que gira e gira com sua saia rodada. Ela dança, fuma cigarrilha, bebe cachaça e conquista todos os homens com seu jeito faceiro. Esta é a Pombagira, ou Exu-mulher, uma das entidades da Umbanda e do Candomblé.

Na verdade, não é apenas uma, mas muitas, como a Pombagira Rainha, a Sete-Saias e a Menina de Praia, entre outras. Nenhuma delas, porém, com a notoriedade da Pombagira Maria Padilha, que, segundo a tradição, teria sido uma rica cortesã no século 14, amante de sete homens, incluindo o soberano do reino de Castela, atual região espanhola.

O conceito e o papel da Pombagira variam segundo a religião e, ainda, entre as facções internas das crenças. Na Umbanda, por exemplo, enquanto para uns a face feminina de Exu é considerada a mensageira dos orixás, a corrente mais ligada ao Cristianismo acredita que Pombagira seja uma entidade negativa, geralmente associada à mulher de Exu-diabo. Há ainda outra linha, com maior influência da doutrina espírita, que vê a mensageira como um espírito em evolução. "Ela foi uma mulher que fez muita maldade quando viva, mas no mundo espiritual se coloca à disposição para ajudar as pessoas no que elas pedirem", diz o pai-de-santo Anderson Soares, do Templo de Umbanda Ogum e Oxum, em São Paulo. "Quer auxiliar os outros para se tornar um espírito melhor."

Já no Candomblé, dependendo da tradição, a Pombagira aparece como a mulher de Exu ou é considerada o próprio Exu, excluindo-se a figura feminina. "O termo Pombagira é uma adaptação brasileira da palavra bombodila, que significa Exu no dialeto banto", afirma a candomblecista Neusa dos Santos, da casa Qaipomba, em São Paulo.

Seja como for, em ambos os casos ela é sempre considerada uma divindade positiva. "Ela é um orixá que abre caminhos, ajudando os fiéis a superar dificuldades", diz o babalorixá Antonio da Silva, do Terreiro Axé Alakeru llê Ogum, na Grande São Paulo.

Presente na Umbanda e no Candomblé, a Pombagira seria uma figura sedutora que ajudaria os fiéis a superar problemas. Apesar desse aspecto positivo, a figura da Pombagira frequentemente é associada pelo senso comum com uma entidade maléfica. Entretanto, segundo a antropóloga das religiões Liana Trindade, autora do livro Exu: Poder e Perigo, essa caracterização demoníaca da Pombagira, assim como de Exu, é fruto da preponderância da visão cristã do mal na sociedade em geral. "O Cristianismo sempre reprimiu o sexo, ao contrário das religiões de origem africana, nas quais a atividade sexual não é pecado", afirma Liana. "Outro ponto importante em relação à Pombagira é o fato de ela ter a mesma força de Exu, o que reflete um tratamento mais igualitário dado aos sexos pelos credos afro-brasileiros."

O medo, o desconforto, a maledicência sobre as Pombagiras deve-se pelo fato de elas atuarem nas partes ocultas e nas questões oprimidas da mulher, a exemplo, temos o desejo que ainda é um grande tabu para a maioria das pessoas, principalmente para os homens e para os mais tradicionalistas. Para muitos, “Ter Desejo” é proibido e o fato é que as Pombagiras moram na casa dos desejos, entenda desejo tudo aquilo que realmente desejamos.

Elas estão ligadas ao belo, ao que seduz e àquela que se apaixona, ao mesmo tempo remete ao que se deve ser evitado. A própria figura da Pombagira assume toda a sensualidade subversiva e agressiva da sexualidade feminina, em contraste com a ideia do feminino passivo e submisso tão enfatizado por algumas tradições, fato refletido nas suas imagens, onde na maioria das vezes são representadas por mulheres seminuas enquanto as imagens das santas católicas estão sempre bem cobertas (vestidas) e com semblante amenizador.

É referência como propiciadora de abertura de caminhos, da renovação, da vida e da liberdade. E na sua condição de libertina, ou de quem é livre para ir e vir, fala o que pensa e o que quer, ela se comanda.

Manifestam-se tanto na lavadeira como na advogada - condições sociais para Elas não é importante; manifestam-se em mulheres fora dos padrões de beleza ditados pela sociedade e ainda assim exercem sobre os homens um estimulante fascínio e sobre as mulheres a auto-estima; manifestam-se nos Terreiros e rompem com quaisquer diferenças, pois são “apenas” Pombagiras.

A Pombagira está relacionada a tudo que é feminino, adora joias, perfumes, batom, ouro, rosas, principalmente as vermelhas por ser a cor da paixão, do calor, do fogo. Gosta de cigarrilha e champanhe, pois traduz estímulo e alegria.

Em geral os fiéis recorrem à Pombagira para solucionar problemas afetivos, como arranjar casamento, mas também há pedidos para sucesso nos negócios, nos estudos e outras pendengas. Em troca, a mensageira exige algumas oferendas, como tecidos de seda, velas e rosas vermelhas, jóias, perfumes, cigarro e padê (farofa com mel). Tudo deve ser posto em uma encruzilhada em forma de T, que representa o órgão sexual feminino. E, em se tratando de uma entidade, digamos, tão fogosa, o toque final, claro, só poderia ser um: muita sensualidade no pedido. "O devoto deve incorporar o mesmo clima da Pombagira durante o culto para que seu desejo seja atendido", diz Antonio.


Fontes:

Solange Christtine Ventura (http://www.curaeascensao.com.br)


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