Uma
rosa vermelha enfeita os longos cabelos de uma mulher sensual que gira e gira
com sua saia rodada. Ela dança, fuma cigarrilha, bebe cachaça e conquista todos
os homens com seu jeito faceiro. Esta é a Pombagira, ou Exu-mulher, uma das
entidades da Umbanda e do Candomblé.
Na
verdade, não é apenas uma, mas muitas, como a Pombagira Rainha, a Sete-Saias e
a Menina de Praia, entre outras. Nenhuma delas, porém, com a notoriedade da
Pombagira Maria Padilha, que, segundo a tradição, teria sido uma rica cortesã
no século 14, amante de sete homens, incluindo o soberano do reino de Castela,
atual região espanhola.
O
conceito e o papel da Pombagira variam segundo a religião e, ainda, entre as
facções internas das crenças. Na Umbanda, por exemplo, enquanto para uns a face
feminina de Exu é considerada a mensageira dos orixás, a corrente mais ligada
ao Cristianismo acredita que Pombagira seja uma entidade negativa, geralmente
associada à mulher de Exu-diabo. Há ainda outra linha, com maior influência da
doutrina espírita, que vê a mensageira como um espírito em evolução. "Ela
foi uma mulher que fez muita maldade quando viva, mas no mundo espiritual se
coloca à disposição para ajudar as pessoas no que elas pedirem", diz o
pai-de-santo Anderson Soares, do Templo de Umbanda Ogum e Oxum, em São Paulo.
"Quer auxiliar os outros para se tornar um espírito melhor."
Já
no Candomblé, dependendo da tradição, a Pombagira aparece como a mulher de Exu
ou é considerada o próprio Exu, excluindo-se a figura feminina. "O termo
Pombagira é uma adaptação brasileira da palavra bombodila, que significa Exu no
dialeto banto", afirma a candomblecista Neusa dos Santos, da casa
Qaipomba, em São Paulo.
Seja
como for, em ambos os casos ela é sempre considerada uma divindade positiva.
"Ela é um orixá que abre caminhos, ajudando os fiéis a superar
dificuldades", diz o babalorixá Antonio da Silva, do Terreiro Axé Alakeru
llê Ogum, na Grande São Paulo.
Presente
na Umbanda e no Candomblé, a Pombagira seria uma figura sedutora que ajudaria
os fiéis a superar problemas. Apesar desse aspecto positivo, a figura da
Pombagira frequentemente é associada pelo senso comum com uma entidade
maléfica. Entretanto, segundo a antropóloga das religiões Liana Trindade,
autora do livro Exu: Poder e Perigo,
essa caracterização demoníaca da Pombagira, assim como de Exu, é fruto da
preponderância da visão cristã do mal na sociedade em geral. "O
Cristianismo sempre reprimiu o sexo, ao contrário das religiões de origem
africana, nas quais a atividade sexual não é pecado", afirma Liana.
"Outro ponto importante em relação à Pombagira é o fato de ela ter a mesma
força de Exu, o que reflete um tratamento mais igualitário dado aos sexos pelos
credos afro-brasileiros."
O medo,
o desconforto, a maledicência sobre as Pombagiras deve-se pelo fato de elas
atuarem nas partes ocultas e nas questões oprimidas da mulher, a exemplo, temos
o desejo que ainda é um grande tabu para a maioria das pessoas, principalmente
para os homens e para os mais tradicionalistas. Para muitos, “Ter Desejo” é
proibido e o fato é que as Pombagiras moram na casa dos desejos, entenda desejo
tudo aquilo que realmente desejamos.
Elas
estão ligadas ao belo, ao que seduz e àquela que se apaixona, ao mesmo tempo
remete ao que se deve ser evitado. A própria figura da Pombagira assume toda a
sensualidade subversiva e agressiva da sexualidade feminina, em contraste com a
ideia do feminino passivo e submisso tão enfatizado por algumas tradições, fato
refletido nas suas imagens, onde na maioria das vezes são representadas por
mulheres seminuas enquanto as imagens das santas católicas estão sempre bem
cobertas (vestidas) e com semblante amenizador.
É
referência como propiciadora de abertura de caminhos, da renovação, da vida e
da liberdade. E na sua condição de libertina, ou de quem é livre para ir e vir,
fala o que pensa e o que quer, ela se comanda.
Manifestam-se
tanto na lavadeira como na advogada - condições sociais para Elas não é
importante; manifestam-se em mulheres fora dos padrões de beleza ditados pela
sociedade e ainda assim exercem sobre os homens um estimulante fascínio e sobre
as mulheres a auto-estima; manifestam-se nos Terreiros e rompem com quaisquer
diferenças, pois são “apenas” Pombagiras.
A
Pombagira está relacionada a tudo que é feminino, adora joias, perfumes, batom,
ouro, rosas, principalmente as vermelhas por ser a cor da paixão, do calor, do
fogo. Gosta de cigarrilha e champanhe, pois traduz estímulo e alegria.
Em
geral os fiéis recorrem à Pombagira para solucionar problemas afetivos, como
arranjar casamento, mas também há pedidos para sucesso nos negócios, nos
estudos e outras pendengas. Em troca, a mensageira exige algumas oferendas,
como tecidos de seda, velas e rosas vermelhas, jóias, perfumes, cigarro e padê
(farofa com mel). Tudo deve ser posto em uma encruzilhada em forma de T, que
representa o órgão sexual feminino. E, em se tratando de uma entidade, digamos,
tão fogosa, o toque final, claro, só poderia ser um: muita sensualidade no
pedido. "O devoto deve incorporar o mesmo clima da Pombagira durante o
culto para que seu desejo seja atendido", diz Antonio.
Fontes:
Solange Christtine Ventura (http://www.curaeascensao.com.br)
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